sábado, 24 de outubro de 2015

Povos indígenas do Rio Grande do Sul



OS POVOS INDÍGENAS PAMPEANOS: CHARRUAS E MINUANOS
            Denomina-se genericamente de povos pampeanos os grupos indígenas que habitavam a atual região do Uruguai, parte do Pampa e do Chaco argentino e do estado do Rio Grande de Sul. Com uma organização caçadora e coletora, possuíam como língua dominante o idioma Quíchua, possuindo um vínculo de identidade entre si. Destacam-se, entre os índios pampeanos, os grupos Charrua e Minuano.Os povos pampeanos descendem dos mais antigos grupos de caçadores e coletores que se instalaram na região do pampa platino durante a última grande glaciação. Apesar das poucas informações existentes sobre os Charrua e os Minuano, a cultura material encontrada sugere que suas técnicas de lascamento de pedra eram consideradas bastante avançadas, elaborando pontas de flechas com retoques bastante bem realizados. Em muitas regiões, estes grupos passaram a se instalar em pequenas elevações, conhecidas como cerritos, locais onde deixaram marcas de suas atividades diárias, como pesca, cerâmica e enterros rituais.
É importante lembrar ao leitor que a estes grupos Charrua e Minuano faz-se a correlação etnográfica com os “Cerritos de los índios”, montículos de terra bastante comuns nas regiões do litoral e pampa do território já mencionado. Estes montículos de terra são geralmente tratados pelos arqueólogos como áreas de moradia, cemitérios, demarcadores de fronteiras sociais, monumentos de memória e identidade e marcos na paisagem, construídos pelos grupos ameríndios a partir de aproximadamente 5000 anos atrás até, pelo menos, 200 anos, quando então, dadas às transformações sociais e culturais vinculadas ao processo colonizatório, pararam de ser construídos (MILHEIRA, 2008, p.179).
            Ainda, sobre os Cerritos, temos a seguinte definição:
Em relação aos Cerritos, pode-se dizer que estas são estruturas arqueológicas monticulares constituídas predominantemente com terra e diferentes tipos de vestígios de cultura material: arqueofauna, instrumentos líticos e cerâmicos ,estruturas de fogueiras e enterramentos humanos. Os sítios arqueológicos com Cerritos encontram-se no Sul da América do Sul, distribuídos nas porções Leste e Norte do Uruguai, Sul do Brasil (Rio Grande do Sul) e na porção Nordeste da Argentina. (NAUE apud GARCIA; MILDER, 2012,p. 37).

Apesar de serem seguidamente citados de maneira conjunta, Charruas e Minuanos foram dois grupos distintos. Conforme Becker (2002). Como já destacado anteriormente, ambos os povos pertencem ao mesmo grupo linguístico, Quíchua, mas não se sabe se falavam línguas ou apenas dialetos distintos. Devido à falta de conhecimento histórico, algumas vezes são mencionados como um único grupo. De acordo com Garcia e Milder (2012) os Charrua e os Minuano foram distintos em aspectos físico, social e cultural e quanto aos seus territórios de domínio. No entanto, os relatos e as associações feitas sobre esses grupos, muitas vezes são equivocados, sendo frequente a confusão entres os grupos, os tratando como um grupo homogêneo. Um fator a se destacar são as diferenças físicas entre os indivíduos de cada povo:
Pertenciam à raça pampeana; tinham estatura variável entre 1,76 m para os homens e 1,68 a 1,66 m para as mulheres. Eram de constituição física normal com algumas diferenças mercantes entre os grupos. Tinham os membros bem conformados, com pés e mãos relativamente pequenos. Dolicomorfos, de olhos amendoados, pretos e olhar penetrante; o nariz variava entre aquilino e levemente achatado. Eram de cor morena acentuada; cabelos lisos, pretos, não muito abundantes assim como a barba que era bastante rala. Os homens usavam o cabelo solto, ou preso ao redor da testa por uma tira de couro; as mulheres usavam-no em trança ou raramente solto. As diferenças físicas entre os dois grupos estavam na altura; os minuano eram alguns centímetros mais baixos e menos robustos que os Charrua. O dimorfismo sexual era acentuado, tendo as minuanas os seios mais volumosos que as charruas; a boca e olhos também maiores; os lábios mais grossos e o nariz mais achatado ( BECKER, 2006,p.135).

Havia, também, diferenças culturais:

Prosseguindo os relatos sobre as distinções destes grupos, vê se que haviam também significativas divergências culturais entres os mesmos quanto aos seus aspectos sociais. Entre os Minuano, as mulheres parecem ter tido maior igualdade perante aos homens de seu grupo do que as Charrua, existindo algumas que chegaram a exercer atividades médicas e ter a liberdade de beber nas cerimônias xamânicas com os homens, posição não permitida às Charrua. ( GARCIA; MILDER, 2012, p. 41).


No estado do Rio Grande do Sul, Charrua e Minuano estavam localizados nos campos do Sudeste e do Sudoeste, aproximadamente até a altura dos rios Ibicuí e Camaquã, estendendo-se para o território uruguaio e argentino, este último em pequena proporção. O contato com os conquistadores europeus obrigou os grupos indígenas a fazerem vários deslocamentos; Contudo, as posições originais dos primeiros séculos de ocupação ainda são bastante perceptíveis.  temperamento arredio e retraído, os grupos pampeanos geralmente são retratados como bons cavaleiros que, com suas boleadeiras, arcos e flechas, vagavam pelos campos caçando diversos animais para seu sustento. Apesar das inevitáveis transformações que ocorreram no cotidiano após o contato com os europeus, Charrua e Minuano não perderam a índole guerreira, cultivando ao longo do tempo o caráter de inconformidade diante da dominação europeia, o que contribuiu para o extermínio do grupo em meados do século XX. Garcia e Milder (2012) destacam que os contatos  dos Charrua com a Espanha e dos Minuano com Portugal, não significam a submissão ameríndia a estas coroas europeias, uma vez que houveram represálias constantes  por parte dos dois grupos.
De acordo com Becker (2002), a organização social, alicerçada na família, foi uma constante entre Charrua e Minuano até os momentos finais dos dois grupos. Mesmo com o contato com portugueses e espanhóis, algumas características iniciais, como a poligamia, mais frequente entre os Charrua, permaneceram. No que diz respeito à educação, nos grupos Charrua, a educação dos filhos era dirigida pelas inclinações individuais, assim como entre os Minuano, onde a educação também era responsabilidade dos pais. Em ambos os grupos, a família, que possivelmente era nuclear de linha paterna, constituída pelo casamento, absorvia os homens já em idade madura; Entre os Minuano, as mulheres casavam-se precocemente, e, assim como entre os Charrua,  estavam submissas ao maridos. Em relação ao filhos:
Os filhos entre os Charrua, aparentemente, eram criados pelos pais biológicos, enquanto entre os Minuano a educação das crianças costumava ser de responsabilidade dos pais até o período de lactância, e após esse momento, a responsabilidade de prosseguir a educação das crianças passava para algum familiar. Entre os Charrua era comum familiares ou outras pessoas se disponibilizarem a acolheros órfãos de seu grupo por meio de adoção. (BECKER apud GARCIA; MILDER, 2012, p.42).

            No entendimento de Becker (2002), o avanço da colonização efetiva acrescentou as culturas dos grupos nativos os produtos dessa colonização, dando aos indígenas uma gama de possibilidades, ainda que continuassem caçadores. Contudo, ocorreram mudanças na caça preferida, que passa a ser o gado; Muda também o transporte e vários hábitos. Assim, os grupos Charrua e Minuano tornaram-se pequenos criadores de equinos e bovinos, tanto para seu sustento como para o comércio por troca de bens coloniais com os europeus, de maneira que ambos os grupos foram se incorporando à economia colonial, mas não de forma intencional. Esta integração, por ter ocorrido de maneira forçada, é periférica, uma vez que os índios não conseguiram desenvolver uma economia nos moldes dos brancos.







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