OS
POVOS INDÍGENAS PAMPEANOS: CHARRUAS E MINUANOS
Denomina-se genericamente de povos pampeanos
os grupos indígenas que habitavam a atual região do Uruguai, parte do Pampa e
do Chaco argentino e do estado do Rio Grande de Sul. Com uma organização
caçadora e coletora, possuíam como língua dominante o idioma Quíchua, possuindo
um vínculo de identidade entre si. Destacam-se, entre os índios pampeanos, os
grupos Charrua e Minuano.Os
povos pampeanos descendem dos mais antigos grupos de caçadores e coletores que
se instalaram na região do pampa platino durante a última grande glaciação.
Apesar das poucas informações existentes sobre os Charrua e os Minuano, a
cultura material encontrada sugere que suas técnicas de lascamento de pedra
eram consideradas bastante avançadas, elaborando pontas de flechas com retoques
bastante bem realizados. Em muitas regiões, estes grupos passaram a se instalar
em pequenas elevações, conhecidas como cerritos, locais onde deixaram marcas de
suas atividades diárias, como pesca, cerâmica e enterros rituais.
É importante lembrar ao
leitor que a estes grupos Charrua e Minuano faz-se a correlação etnográfica com
os “Cerritos de los índios”, montículos de terra bastante comuns nas
regiões do litoral e pampa do território já mencionado. Estes montículos de
terra são geralmente tratados pelos arqueólogos como áreas de moradia,
cemitérios, demarcadores de fronteiras sociais, monumentos de memória e
identidade e marcos na paisagem, construídos pelos grupos ameríndios a partir
de aproximadamente 5000 anos atrás até, pelo menos, 200 anos, quando então,
dadas às transformações sociais e culturais vinculadas ao processo
colonizatório, pararam de ser construídos (MILHEIRA, 2008, p.179).
Ainda, sobre os Cerritos, temos a
seguinte definição:
Em
relação aos Cerritos, pode-se dizer que estas são estruturas arqueológicas
monticulares constituídas predominantemente com terra e diferentes tipos de
vestígios de cultura material: arqueofauna, instrumentos líticos e cerâmicos ,estruturas
de fogueiras e enterramentos humanos. Os sítios arqueológicos com Cerritos
encontram-se no Sul da América do Sul, distribuídos nas porções Leste e Norte
do Uruguai, Sul do Brasil (Rio Grande do Sul) e na porção Nordeste da
Argentina. (NAUE apud GARCIA; MILDER,
2012,p. 37).
Apesar de serem seguidamente citados
de maneira conjunta, Charruas e Minuanos foram dois grupos distintos. Conforme
Becker (2002). Como já destacado anteriormente, ambos os povos pertencem ao
mesmo grupo linguístico, Quíchua, mas não se sabe se falavam línguas ou apenas
dialetos distintos. Devido à falta de conhecimento histórico, algumas vezes são
mencionados como um único grupo. De acordo com Garcia e Milder (2012) os
Charrua e os Minuano foram distintos em aspectos físico, social e cultural e quanto
aos seus territórios de domínio. No entanto, os relatos e as associações feitas
sobre esses grupos, muitas vezes são equivocados, sendo frequente a confusão
entres os grupos, os tratando como um grupo homogêneo. Um fator a se destacar
são as diferenças físicas entre os indivíduos de cada povo:
Pertenciam
à raça pampeana; tinham estatura variável entre 1,76 m para os homens e 1,68 a
1,66 m para as mulheres. Eram de constituição física normal com algumas
diferenças mercantes entre os grupos. Tinham os membros bem conformados, com
pés e mãos relativamente pequenos. Dolicomorfos, de olhos amendoados, pretos e
olhar penetrante; o nariz variava entre aquilino e levemente achatado. Eram de
cor morena acentuada; cabelos lisos, pretos, não muito abundantes assim como a
barba que era bastante rala. Os homens usavam o cabelo solto, ou preso ao redor
da testa por uma tira de couro; as mulheres usavam-no em trança ou raramente
solto. As diferenças físicas entre os dois grupos estavam na altura; os minuano
eram alguns centímetros mais baixos e menos robustos que os Charrua. O
dimorfismo sexual era acentuado, tendo as minuanas os seios mais volumosos que
as charruas; a boca e olhos também maiores; os lábios mais grossos e o nariz
mais achatado ( BECKER, 2006,p.135).
Havia,
também, diferenças culturais:
Prosseguindo
os relatos sobre as distinções destes grupos, vê se que haviam também
significativas divergências culturais entres os mesmos quanto aos seus aspectos
sociais. Entre os Minuano, as mulheres parecem ter tido maior igualdade perante
aos homens de seu grupo do que as Charrua, existindo algumas que chegaram a
exercer atividades médicas e ter a liberdade de beber nas cerimônias xamânicas
com os homens, posição não permitida às Charrua. ( GARCIA; MILDER, 2012, p.
41).
No estado do Rio Grande do Sul,
Charrua e Minuano estavam localizados nos campos do Sudeste e do Sudoeste,
aproximadamente até a altura dos rios Ibicuí e Camaquã, estendendo-se para o
território uruguaio e argentino, este último em pequena proporção. O contato
com os conquistadores europeus obrigou os grupos indígenas a fazerem vários
deslocamentos; Contudo, as posições originais dos primeiros séculos de ocupação
ainda são bastante perceptíveis. temperamento arredio e retraído, os grupos pampeanos geralmente são retratados
como bons cavaleiros que, com suas boleadeiras, arcos e flechas, vagavam pelos
campos caçando diversos animais para seu sustento. Apesar das inevitáveis
transformações que ocorreram no cotidiano após o contato com os europeus, Charrua
e Minuano não perderam a índole guerreira, cultivando ao longo do tempo o
caráter de inconformidade diante da dominação europeia, o que contribuiu para o
extermínio do grupo em meados do século XX. Garcia e Milder (2012) destacam que
os contatos dos Charrua com a Espanha e
dos Minuano com Portugal, não significam a submissão ameríndia a estas coroas
europeias, uma vez que houveram represálias constantes por parte dos dois grupos.
De acordo com Becker (2002), a organização
social, alicerçada na família, foi uma constante entre Charrua e Minuano até os
momentos finais dos dois grupos. Mesmo com o contato com portugueses e
espanhóis, algumas características iniciais, como a poligamia, mais frequente
entre os Charrua, permaneceram. No que diz respeito à educação, nos grupos
Charrua, a educação dos filhos era dirigida pelas inclinações individuais,
assim como entre os Minuano, onde a educação também era responsabilidade dos
pais. Em ambos os grupos, a família, que possivelmente era nuclear de linha
paterna, constituída pelo casamento, absorvia os homens já em idade madura;
Entre os Minuano, as mulheres casavam-se precocemente, e, assim como entre os
Charrua, estavam submissas ao maridos.
Em relação ao filhos:
Os
filhos entre os Charrua, aparentemente, eram criados pelos pais biológicos,
enquanto entre os Minuano a educação das crianças costumava ser de responsabilidade
dos pais até o período de lactância, e após esse momento, a responsabilidade de
prosseguir a educação das crianças passava para algum familiar. Entre os
Charrua era comum familiares ou outras pessoas se disponibilizarem a acolheros
órfãos de seu grupo por meio de adoção. (BECKER apud GARCIA; MILDER, 2012, p.42).
No entendimento de Becker (2002), o
avanço da colonização efetiva acrescentou as culturas dos grupos nativos os
produtos dessa colonização, dando aos indígenas uma gama de possibilidades,
ainda que continuassem caçadores. Contudo, ocorreram mudanças na caça
preferida, que passa a ser o gado; Muda também o transporte e vários hábitos.
Assim, os grupos Charrua e Minuano tornaram-se pequenos criadores de equinos e
bovinos, tanto para seu sustento como para o comércio por troca de bens
coloniais com os europeus, de maneira que ambos os grupos foram se incorporando
à economia colonial, mas não de forma intencional. Esta integração, por ter ocorrido de maneira forçada, é
periférica, uma vez que os índios não conseguiram desenvolver uma economia nos
moldes dos brancos.
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