Ficha de leitura de FURTADO, Júnia Ferreira. A morte
como testemunho da vida. In:
PINSKY,Carla Bassanezi; LUCA, Tania Regina de.
O historiador e suas fontes.São Paulo: Contexto, 2009, p. 93-118.
- Em A morte como testemunha da vida, Júnia
Ferreira Furtado (2009) destaca as amplas possibilidades que inventários e
testamentos oferecem como fonte de pesquisa histórica; Além de testemunhos
sobre a morte, tal documentação pode transformar-se em testemunho sobre a vida,
tanto material quanto espiritual.
-Em uma comparação simples entre os dois documentos,
pode-se afirmar que o testamento é produzido nos momentos que antecedem a morte
do indivíduo, registrando ainda em vida a última vontande do testador; Por sua
vez, o inventário é feito após a morte, e por meio dele os bens do falecido
comforme as regras legais e sua última
vontade, em casos onde há testamento. Em comum, ambos são regidos por leis
específicos e tratam sobre bens materiais. Para melhor estudar tal
documentação, é importante que o historiador conheça as leis vigentes no
período em que os escritos foram produzidos.
- A dinâmica do texto consiste, em grande parte, em
uma comparação entre as Ordenações Filinas e o Código Brasileiro de 1916 a
respeito das regras que regiam a elaboração de testamentos e inventários. Nesta
comparação, o primeiro ponto abordado pela autora é sobre os limites e o
direito de testar.
-As Ordenações Filipinas proibiam que determinados
grupos fizessem testamento: homens menores de 14 anos e mulheres menores de 12
anos, loucos, heréges, escravos. Estes últimos, apesar da proibição legal, não
foi seguida à risca. O Código Brasileiro de 1916 seguiu basicamente os mesmo
princípios, exceto com relação a idade mínima, que foi elevada para 16 anos; O
Novo Código Civil Brasileiro, por sua vez, mantem a idade mínima em 16 anos e
veda o direito de testar aos incapazes sem discernimento.
-Testamentos, apesar de servirem na maioria das vezes
para doar bens, também era utilizados para proibir que determinada pessoa
tivesse acesso aos bens do indivíduo após sua morte; Em alguns casos, esposas
que foram abondonadas pelos maridos deixaram em seus testamentos a vontade que
seus bens não fossem dados aos esposos; A doação de bens para filhos ilegítimos
também era prática comum. Em alguns casos, porém, a pessoa estava proibida por
lei de receber bens, como é o caso dos sacrilégios, dos adulterinos e dos
incestuosos.
-Além dos testamentos, existiam também os codicilos;
De acordo com as Ordenações Filipinas,
codicilo é disposição da última vontade, porém sem a instituição de um
herdeiro. Diferentemente do testamento, que tratava em sua tema principal da
doação de bens, os codicilos eram utilizados para deixar determinações sobre o
funeral ou esmola aos pobres.
-O próximo tema abordado no texto são os inventários.
Para Furtado (2009), inventário post-mortem refre-se ao arrolamento de
bens de um indivíduo feito após a morte com o objetivo de realizar a partilha
dos bens entre os herdeiros. Assim, o inventário é o registro oficial do patrimonio
deixado pela pessoa falecida, bem como a lista de créditos ou débitos do morto.
-As Ordenações Filipinas não obrigavam a realização de
um inventário juducial quando os herdeiros acertavam amigavelmente a partilha
dos bens do falecido, respeitando aquilo determinado no testamento, quando
houvesse. Quando o falecido deixasse herdeiros menores de 25 anos, o inventário
tornavasse obrigatório.
-Apesar de serem semelhates, testamentos e inventários
não se anulam, mas relacionam-se entre si. Se o falecido deixou um testamento,
este deve ser respeitado e transcrito no início do inventário; Porém, um
inventário pode prescindir de um testamento.
-Não há duvidas de que testamentos e inventários são
fontes riquíssimas para o trabalho do historiador. São comumente utilizados de
maneira serial, apontando aspectos e valores de determinada sociedade. Porém,
ao utilizar tais é fontes, é necessário que o historiador tome alguns cuidados,
alertando-se para o fato que tratam-se de documentos oficiais, escritos em
modelo padrão e com grande possibilidade de omitir alguns bens e supervalorizar
outros; Quando utilizados de forma serial, é importante ver ser os documentos
selecionados possuem grau de representatividade em relação ao conjunto da
população estudada; Por fim, faz-se importante lembrar que o tempo do
testamento é breve, enquanto um inventário pode desenrolar-se por vários anos.
- A temática religiosa pode ser estudada com base em
testamentos e inventários. Os testamentos mais antigos oferecem uma séries de
informações sobre religiosidade, como os santos de devoção, as irmandades
religiosas que receberiam bens do falecido, as cerimônias de sepultamento, etc.
Nos inventários, apesar de estas informações aparecerem em menor número, é
possível encontrar gastos realizados para garantir a "boa morte",
isto é, o número de missas que deveriam ser rezadas pela alma. A crença
católica na existência de um purgatório potencializou este tipo de escrito nos
inventários.
-A ascensão da burguesia e a aparente oposição entre a
mentalidade burguesa e a ética cristã também pode ser percebida em testamentos
e inventários. Se em um primeiro momentos os testamentos apresentavam pessoas
pedindo a salvação da alma invocando o sofrimento que Jesus Cristo que padeceu
na cruz, passou-se a solicitar a chegada aos céus em troca dos merecimentos de
trabalhador do indivíduo, em uma clara valorização do trabalho.
-Ordens religiosas também são temas frequentes nos
documentos, uma vez que era comum o falecido deixar parte dos seus bens para
estas instituições. A inquietação do testador diante da morte também é algo
visível, uma vez que a recomendação de como se executariam os ritos mortuários
era fundamental para identificar o lugar que o individuo ocupava na sociedade.
Luxo e ostentação eram fundamentais.
-Alforrias de escravos também são temas comuns em
testamentos. Não raramente, no momento da morte, as pessoas alforriavam
escravos em sinal de caridade. Além disso, investários se revelam como
preciosos, uma ves que apresentam o plantel de escravos do falecido,
registrando idade, preços e outros aspectos.
-Outra possibilidade que os documentos apresentam é de
estudar a história de famílias e da cultura material, uma vez que testamentos e
inventários revelam aspectos sobre a dinâmica familiar anteriormente a morte do
testador e algumas vezes nos anos progressos ao falecimento, além de
apresentarem dados sobre objetos individuais do falecido, como roupas e livros.
-As possibilidades de pesquisa abertas por testamentos
e inventários são bastante amplas e, em alguns casos, pouco exploradas. É
função dos historiadores procurar fazer o melhor uso possível destas
riquíssimas fontes para o estudo da História.
Estou planejando fazer o meu TCC sobre inventários, porém, como dito acima, o tema é muito amplo e pode transcorrer por vários caminhos, ainda não sei por onde começar mas vejo o quão interessante é este tema. (Obs: estou no 5º Período do curso de história pela Universidade Federal de Alagoas, Campus Sertão). Desde já, grato pelas ricas e preciosas informações.
ResponderExcluirFico muito feliz que tenha gostando do conteúdo do blog. Como bem destacastes, o tema é bastante amplo e riquíssimo. Com certeza, com a orientação adequada, poderá render um excelente TCC. Atualmente, muitos estudos sobre a escravidão e sobre geneologia são feitos tendo inventários e testamentos como fonte. Seja bem vindo e recomende o blog para seus amigos. Um abraço!
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