sábado, 1 de outubro de 2016

É possível manter a esperança na política?


. Às vésperas das eleições municipais, a pergunta que dá título a esta reflexão nunca ecoou de maneira tão latente. Ao acessarmos redes sociais, ao lermos jornais ou ao assistirmos televisão, nos deparamos com uma enxurrada de notícias preocupantes: ameaça de retirada de direitos duramente conquistados, casos de corrupção, denúncias de fraudes... parece que tudo se encaminha para um cenário desastroso e inacessível para o cidadão.                                              
A democracia no Brasil ainda é muito frágil e apenas se fortalecerá com a participação popular efetiva. Analisado a história do Brasil Republicano, é inegável que existem motivos que levam as pessoas a desconfiarem do poder do voto. Vejamos:

1) O período conhecido como Primeira República (1889-1930) foi marcado por uma democracia bastante restrita. De acordo com a Constituição Federal de 1891, estavam aptos a votar somente os homens maiores de 21 anos e alfabetizados. Como se não bastasse estas restrições, a Constituição não determina o sigilo de voto,  levando os eleitores a sofrerem constantes pressões por parte dos grandes proprietários de terra, os chamados coronéis.

2) Durante a Era Vargas (1930-1945) o exercício pleno da democracia também não foi possível, considerando que durante estes quinze anos não houve eleição direta para presidente da república. Um avanço importante do período foi a concessão do direito de voto às mulheres, determinado pela Constituição Federal de 1934.

3) Entre os anos 1945 e 1964 ocorreu o chamado Período Democrático. Em 1945 as mulheres puderam eleger, pela primeira vez, o presidente da república. Esta eleição também é considera a primeira verdadeiramente democrática da história da república, uma vez que não houve quase nenhuma denúncia de fraude e o resultado foi aceito pelas forças políticas da época. Não é correto, porém, pensar que neste período a democracia não foi ameaçada: há o suicídio de Getúlio Vargas e a tentativa de golpe contra Juscelino Kubitschek.

4) Durante a Ditadura Militar ( 1964-1985) não houve eleição direta para presidente. Além disso, os governos militares instituíram a censura e eliminaram a oposição política, permitindo a existência de somente dois partidos: a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), representante da situação, e o   Movimento Democrático Brasileiro (MDB), representante de uma oposição restrita.

5) Chamamos o período iniciado após a Ditadura Militar de redemocratização.  Após a eleição indireta de Tancredo Neves em 1985, os brasileiros puderam votar novamente para presidente da república somente em 1989 ( a última vez havia sido em 1960). Os impeachments de Fernando Collor, em 1992, e Dilma Rousseff, em 2016, também fizeram os brasileiros desacreditarem no poder do voto e na participação política.

            
         Como é visto, não faltam motivos para desacreditarmos na política. Em nossa história republicana, muitos foram os momentos em que o direito de votar não pode ser exercido plenamente.  Em outros, em que este direito foi garantido, muitos eleitos não cumpriram suas funções com dignidade, levando o eleitor à desesperança e à apatia. Sobre este fato, Brecht já nos alertara que o pior analfabeto é o analfabeto político, uma vez que ele não sabe o preço do feijão, do peixe e da farinha. Em outras palavras, não sabe que sua vida depende diretamente de decisões política.                                                                       
            O momento político do país é difícil. Confiar na política e em seus agentes é um verdadeiro desafio. Por outro lado, a democracia no Brasil ainda é muito frágil e apenas se fortalecerá com a participação popular efetiva. É possível manter a esperança na política? Talvez, no momento, isso seja o mais difícil para o cidadão. É, contudo, necessário.

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