Os
anos sombrios
Os governos ditatoriais que
existiram na América Latina ao longo do século XX ainda são temas de constante
debate historiográfico. Por se tratar de um tema que envolve interesses de
diferentes seguimentos da sociedade e que relativamente ainda atual, as
ditaduras militares no Cone Sul vem seguidamente sendo reinterpretadas pela
historiografia. Sabe-se que é difícil estabelecer
generalizações com relação a produção historiográfica recente sobre o tema nos
diversos países, devido as variações das histórias nacionais e pelo
funcionamento do âmbito universitário em cada país. Porém, como ponto em comum,
verificou-se um grande interesse pela natureza e o processo político dos
regimes autoritários e seus autores, ressaltando, inclusive, a dimensão
autoritária. Neste contexto, a autonomia política foi utilizada para explicar
os fundamentos, sendo que as ditaduras foram resultado de arranjos
institucionais que respondiam as novas necessidades do capital
institucionalizada que procurava apoio nas forças militares para proteger seus
interesses e garantir a dominação da classe.
Contestando
esta ideia, uma interpretação anti-economicista surge, produzindo diferentes
resultados, criticando o desinteresse pelos estudos políticos e sociais,
focando apenas na economia. Nos últimos anos, apesar de ter havido uma
significativa melhora na compreensão das ditaduras como processos únicos em
cada país, surgiram novas dificuldades, como a difícil tarefa de realizar
comparação entre os regimes dos diferentes países sem cair no erro das
homogeneizações.
Um
segundo tema que tenha sido alvo de estudo nos diversos países diz respeito as
organizações e projetos políticos e revolucionários de esquerda, que
teoricamente teriam sido o principal adversário real e imaginário das
ditaduras, especialmente dos grupos armados. O interesse pelo aspecto
ideológico deveu-se, muitas vezes, a uma historiografia com grande empatia pela
esquerda em uma época em que o cenário político da América Latina estava em
aberto e não se limitava a democracia liberal. Demonstra também a simpatia da
historiografia com as vítimas mais visíveis dos regimes autoritários.
Um terceiro tema que tem sido
alvo de revisão pela historiografia diz respeito ao local e ao tempo onde estes
eventos ocorreram. Tem-se, em um primeiro momento, estudos muito reduzidos no
que refere-se ao eventos locais, provinciais, sendo que a maioria dos estudos
abordava o país como um todos homogêneo. Logicamente, é necessário buscar uma
história das regiões periféricas, que muitas vezes destoa da história
tradicional das grandes capitais. É necessário também realizar uma renovação
temporal das ditaduras, que devem ser entendidas dentro de um processo e não
reduzidas somente ao período em que os militares estiveram no poder.
Por
fim, um tema que já foi revisto diz respeito aos grupos que participaram de
tais governos; Em um primeiro momento, as ditaduras que eram chamadas de
“militares”, passaram a receber a denominação de “civis-militares”, uma vez que
se percebeu a forte participação da massa civil no processo que instaurou
ditaduras nos países latino-americanos. Talvez sem o apoio dos civis, os
militares não pudessem se manter tantos anos no poder, tal como aconteceu no
Brasil, por exemplo.
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